28 dezembro, 2006

Nova vida


28 de dezembro de 2006.

Depois de duas reuniões internas, fui hoje pela primeira vez para o escritório, um novo escritório de uma nova vida.
Comecei o ano de 2006 desempregado e abrirei o de 2007 com novas perspectivas.
Estou feliz, com muita esperança, com novas pessoas para conhecer, com novos desafios a encarar.
No sábado irei a um plantão, mesmo sem escala. Acompanharei o Eloy e começarei a aprender a prática do meu novo mundo. Já tenho plantões marcados para a próxima semana e... tenho que estudar. Estudar muito, fazer provas, ter meu registro de profissional.
O desenho que ilustra o post é do primeiro empreendimento para onde irei na próxima semana: Weber Art, Alto da Lapa.
Desejo e peço a Deus me acompanhe e me abençoe.

27 dezembro, 2006

Sem hora, em qualquer lugar


27 de dezembro de 2006.

Eu sempre fico pensando na diversidade de coisas que as pessoas fazem, nos horários que cada um tem diferente, nos passatempos, nas obrigações, no tempo que cada um gasta com infinitas atividades...
Às vezes vejo fotos de mil lugares que fotografei. Penso em quem está lá agora, no que está fazendo, no movimento do momento. Sou louco? Quantas vezes não gostaria de eu mesmo estar ali mais uma vez...
Quando morava em prédio, ou mesmo quando chego na janela do apartamento da Sueli, fico olhando as outras janelas. Há luzes acesas e apagadas, há abajures, mesas, televisão ligada e quantas no mesmo canal, pessoas que andam e procuram objetos, vêm e vão da sala ou do quarto. Uns já jantaram enquanto outros preparam a mesa. Há os solitários e os acompanhados. E quantos acompanhados estão também solitários...
Uns assitem à TV, uns lêem jornais, revistas ou livros, uns teclam no computador, uns jogam xadrez ou qualquer jogo de tabuleiro, uns brincam com as crianças, outros contam histórias, uns conversam animadamente, uns se calam e apenas riem, uns pensam em sair para a noite, para um jantar ou uma balada, uns só vêem a cama à sua frente...
Alguns acordam cedo, muito cedo ou mais ou menos cedo, outros tarde, muito tarde ou mais ou menos tarde... Aliás, o que é cedo e tarde? Depende da vida de cada um, dos afazeres, dos compromissos, das pessoas que o esperam... Ou não.
Cada pessoa pode cantar, dançar, descansar. Precisa apenas de um motivo.
Eu leio, escrevo, assisto, ouço, crio, brinco, acaricio, beijo, transo, amo, como, bebo, dou banho, seco cabelos, blogo, invento, admiro, estudo... Quantos verbos, quantas ações!
Eu vivo. E prefiro viver sem hora, sem programa, sem ordem mesmo sendo organizado. Eu gosto de viver a vida como ela é.

25 dezembro, 2006

Festa pagã


25 de dezembro de 2006.

Ontem entrei no elevador e lá já estava o homem. Cumprimentei com um “bom dia”, coisas de elevador. Costumamos cumprimentar pessoas mesmo sem conhecer, apenas por freqüentar o mesmo local.
- Hoje é o dia da festa pagã...
Concordei depois de pensar rápido. E ele continuou:
- As pessoas comem muito, mesas fartas, mostram o que têm dando presentes caros... Eu, no Natal, como apenas peixe com farinha. Tudo o que aprendi sobre o Natal, aprendi com minha mãe que era judia. Meu pai era cristão e minha mãe judia. Eu nunca dei presentes de Natal para os meus filhos...
- Então aprenderam como o senhor... – comentei.
- Sim, também comem apenas peixe com farinha. É, o espírito e o verdadeiro sentido do Natal se perdeu. Agora é uma festa pagã...
O elevador chegou ao destino. Eu estava carregado de sacolas e ele abriu a porta para mim. Agradeci e despedimo-nos.

22 dezembro, 2006

Apagar das luzes


22 de dezembro de 2006.

Sexta-feira. A última antes do Natal. No escritório nada para fazer. Dia de preguiça, ritmo de férias. Apenas conversas, risadas, expectativa pela festa de confraternização, pela troca de presentes, pela carne e pela cerveja até explodir. Isto é o escritório. Lá embaixo, na grande loja do comércio varejista, movimento. Muito movimento. O staff de lá vive outro ritmo, incansável, alucinado, a mil por hora, ouvindo reclamações de clientes, se apertando em meio ao empurra-empurra.
Chega finalmente as dezoito horas, a hora oficial de terminar o expediente. Até que todos se arrumem, fechem suas gavetas, suas bolsas, coloquem seus paletós e acessórios, já se passou mais de meia hora.
Saímos para a rua. Ainda há um pouco de movimento. No centro de São Paulo a coisa é bem diferente dos shoppings que devem estar lotados. Há sujeira no chão, nas ruas e nas calçadas. Uma dupla de meninos cheira esmalte roubado da loja. Na semana que virá será assim, com ninguém nas ruas. Apenas este clima de preguiça, de apagar das luzes, de fim de mais um ano.
Foi o que vivi durante vários anos. Hoje, apesar de não trabalhar mais no mesmo lugar, voltei a sentir o mesmo marasmo, o mesmo clima, a mesma sensação de final de festa. Chato.

17 dezembro, 2006

O que falam as crianças


17 de dezembro de 2006.

A Aline vive falando coisas erradas, daquele tipo "diz o que entende". Eu sempre acho graça junto com a Clau e hoje pensei em começar a registrar. Uma delas até já escrevi por aqui, o deusa-deus (benza Deus).
Hoje foi a vez do Bruno, dia do seu aniversário de quatro anos. Junto com um tênis do Batman que o pai dele comprou veio um acessório.
- Nossa, Bruno, deixe eu ver a sua pulseira! - pediu a avó.
- Não é pulseira, é mulequêra!
- Ah, munhequeira...
- Você não sabe falar não, vó? É mulequêra!
Ah, depois de ouvir a história, eu tinha que fotografar o autor e o objeto, né?

16 dezembro, 2006

Frases que a gente nem percebe


16 de dezembro de 2006.

Minha irmã era apaixonada pelo Fábio. Ele era um cara realmente bonito, além de ser simpático, bom de coração, determinado. Todo mundo gostava dele.
O Fábio tinha um sonho: ser ator da Rede Globo. E foi em busca de seu objetivo. Largou em São Paulo a família, pais e irmãos, e foi para o Rio. Ah, e largou aqui também a minha irmã com o sonho de um namoro.
O tempo corria e nada. Visitava a família de vez em quando, talvez uma vez por mês, em um dos finais de semana.
Mas por que me lembrei do Fábio? Porque, em uma das milhões de sala de espera que existem, encontrei uma velha revista Go Where?, número 51, do ano de 2005. Lá, no meio de uma entrevista com Clodovil Hernandes, algumas frases soltas, até um pouco fora do contexto:
“Agora, a única coisa que não sei lidar é com a hipocrisia do convívio no meio tão escravizante como a televisão. Hoje em dia todo mundo quer ser artista de televisão e não é difícil, basta transar com alguns diretores poderosos e pronto. Não gosto do meio, não acho que seja um ambiente... Olha, se tivesse um filho hoje em dia, ficaria muito preocupado...”
Pois é: um dia a mãe do Fábio contou para a minha que ele estava prestes a conseguir seu sonho, o de atuar numa novela das oito. Para isto, porém, recebeu uma proposta como a descrita por Clodovil. E foi mesmo de um dos poderosos diretores da Globo. Era transar e entrar na novela. Fácil assim.

Até hoje o sonho do Fábio continua a ser sonho. Nem sei se já desistiu.

14 dezembro, 2006

Arquiteto


14 de dezembro de 2006.

- Letra de arquiteto!
- É, sou um arquiteto frustrado... - respondi rápido, sem pensar, ao homem que me dirigira a palavra. Eu não o conhecia. E ele ainda respondeu antes de nos separarmos:
- Ah, eu não disse?
Fiquei pensando que minha resposta fora mal dada. Ele entendera que eu realmente sou um arquiteto e que talvez não tenha tido sucesso na profissão. Não! Não quis dizer nada disso! Sou frustrado por não ter sido arquiteto, isto sim. Mas, depois que ele se foi e refleti um pouco mais sobre a conversa veloz, fiquei feliz. Feliz por um homem ver em minha letra que lá no fundo há um talento. Um talento artístico. Um talento para desenho, matemática e afins. Um talento que desejei. Um talento que não levei adiante...
...
O blog Diário de Gabriela continua.

10 dezembro, 2006

Diário de Gabriela


10 de dezembro de 2006.

Vamos do início: um dia a Clau resolveu criar um blog para a Gabriela, nossa filhinha que vai nascer. Quando vi, já era tarde: escolhera o Live Spaces do MSN. Pediu que eu escrevesse.
Na verdade, a Clau queria mesmo é que eu fizesse um daqueles blogs cheios de estrelinhas, coraçõezinhos, emoticons, pisca-piscas, gifs e tudo o que tivesse de parecido ou de novidade. Comecei a pesquisar como se faz este monte de trique-trique e até que encontrei e aprendi alguns. Até filme eu comecei a produzir para colocar lá no espaço. Mas, e parece que sempre existe um "mas" nas histórias, o tal do Live Spaces é sacal, muito demorado. Fiquei pensando em quem não tem o Speedy: desiste na primeira curva.
Ontem desistimos, de comum acordo, do Live Spaces. Excluí, pura e simplemente, e sem dó, tudo o que eu já fizera. Comecei um novo blog, um novo Diário de Gabriela. Comecei do meu jeito, escrevendo como pai, e fiquei bem feliz. Talvez eu tenha ido até a uma e meia da manhã, quase duas. Depois ainda fiquei na TV.
Madruguei hoje e preocupado. Acho que a Clau não vai gostar nada do que estou fazendo no novo Diário. No fundo, no fundo, ela quer é que eu escreva não como pai e sim como a Gabi, coloque um montão de fotos, além dos trique-triques... Mas continuarei do meu jeito. Quem sabe eu até ainda altere os textos e deixe os créditos para a autora, minha filha. Quem sabe?

06 dezembro, 2006

Microcontos de minha infância


6 de dezembro de 2006.

Mencionei no post anterior que há algumas histórias que me foram contadas e que não são lembranças próprias de alguns acontecimentos da minha infância. Contaram a minha mãe, o meu pai, a minha avó, a minha tia... De qualquer forma eu sou o personagem.

No dia 9 de abril, véspera de meu nascimento, minha mãe passou a tarde sob laranjeiras e laranjeiras. Nasci mijando laranja lima. Brincadeira, esta.

Minha mãe tinha um cachorrinho quando nasci. Penso que meu pai não gostava muito, como até hoje não simpatiza com eles, os cãezinhos. Como virei o centro das atenções, contam que morreu de desgosto. Será?

Aos três anos de idade eu já sabia escrever o meu nome completo. Meu pai fotografou para provar e afirma que ninguém ajudava.

Aos três anos de idade, após operar a garganta e acordar da anestesia, já fui descendo da alta cama do hospital.
- Edmarzinho, você ainda não pode sair da cama!
Dei um pulo de volta e caí do outro lado, no chão.

Aos três anos de idade, em algum lugar, talvez um parque de Juiz de Fora:
- Olhe, meu filho, o Porquinho da Índia!
- Mas cadê a índia???

Sempre tive bom faro. Se minha mãe estava cozinhando feijão então, eu não só sabia como ficava esperando o desligar do fogo. Eu comia cuias e mais cuias de feijão sem tempero, sentado na janela. A vizinha ficava impressionada.

Quando me perguntavam, como a muitas crianças se pergunta:
- O que você vai ser quando crescer?
- Palhaço e soldado! - a resposta era rápida e convicta.
Bem, palhaço eu sou um pouco. Também me fazem de palhaço de vez em quando. Só faltou me profissionalizar...

04 dezembro, 2006

Qual é a sua lembrança mais antiga?


4 de dezembro de 2006.

Como um bom ser do sexo masculino, eu adoro controle-remoto.
O controle-remoto é uma engenhoca das melhores já inventadas. Parece, como já li e ouvi, que para a mulher esta não é uma realidade. Elas conseguem se fixar em apenas uma programação de Tv e aguardar os comerciais mesmo sem dar atenção a todos.
Eu estava apertando uma das setinhas quando parei na Tv Cultura. O programa não sei bem qual era, mas trazia japoneses, moços e idosos, expondo lances de sua memória. Parei ali por um tempo razoável, talvez por gostar de narrativas. É, elas me encantam, mesmo que sejam pouco atraentes. Alguns minutos depois, numa mesa de reuniões, os japoneses começaram a questionar até que idade nossa memória é capaz de voltar. Qual é a sua lembrança mais antiga? E as respostas começavam com “quando eu tinha três ou quatro anos”. Definiram que é esta a idade máxima para a qual conseguimos retroceder: três ou quatro anos.
Coloquei minha memória para funcionar. Lembro de várias histórias, mas das contadas por minha mãe, meu pai ou minha avó. Eu precisava exercitar minha mente e encontrar uma lembrança própria, uma história ou acontecimento que ninguém tivesse me contado.
Eis minha lembrança mais antiga: minha avó Laura pegando-me no colo e dizendo que iria me examinar para ver se eu realmente era seu neto. Eu sei que é coisa de doido, que é uma lembrança de quando eu era apenas uma criança de colo que nada entendia. Mas eu sempre me lembrei, muitas vezes quando olhava para minha avó. E sempre me perguntei: será que não sou neto dela? Será que há esta possibilidade? Por que me lembro disto? Ou será que penso me lembrar e é algo irreal, algo da minha cabeça?
Minha avó Laura, tão querida, já se foi deste mundo e este fato eu nunca perguntei a ninguém. Jamais perguntarei.
Bem, outras histórias, aquelas que me lembro porque me contaram, até que podem ser temas para outros posts.

02 dezembro, 2006

Pare


2 de dezembro de 2006.

Muitas pessoas têm rotinas. Hábitos que também repetem dia após dia.
Usei o metrô durante vários anos, quando trabalhei no centro de São Paulo. Mesmos horários de ida, mesmos de volta, pegar o metrô no mesmo lugar da plataforma acabam por fazer a gente encontrar mesmas pessoas. Continuam e continuarão desconhecidas, mas a fisionomia já se torna familiar. Podemos até ficar pensando como são, o que fazem, para onde vão, com quem e onde moram. Algumas conversas podem ser ouvidas e um pouco até é possível descobrir.
Restaurantes também costumam ter os mesmos clientes com algumas variações. O horário de almoço de cada trabalhador é mais ou menos determinado pelas empresas e as pessoas acabam por freqüentar os mesmos lugares. Um dia ou outro dão uma variada, mas também variam entre dois ou três, talvez quatro lugares para consumir sua refeição.
Em metrópoles como São Paulo as pessoas comem depressa, mesmo quando acompanhadas e com uma boa conversa. Têm mais afazeres como ir ao banco, a uma lojinha básica, ou resolver qualquer problema particular. Todos correm. Uns voam.
Onde tenho almoçado descobri um diferente. Chega ao restaurante quando já são quase duas da tarde. O movimento já é menor e há mesas para escolher. Chega sempre com um jornal ou uma revista. Serve-se de salada e frios e come com calma, saboreando junto uma leitura. Depois faz o seu prato quente. Continua sereno, alheio ao que o rodeia, e lendo com muito interesse. Dia destes eu não me contive. Manifestei ao homem minha admiração por sua tranqüilidade, por sua leitura, por fazer da hora de seu almoço um momento sagrado. Ele sorriu, agradeceu, comentou que é bom que seja assim, que é importante que seja assim, que é necessário que seja assim. E despedimo-nos.
É interessante ver alguém diferente da maioria. Acaba se destacando. Acaba chamando a atenção dos mais observadores. Faz a gente pensar um pouco e puxar também o nosso freio de vez em quando. Realmente é importante e necessário ter momentos de tranqüilidade, ter momentos de prazer. É muito bom deixar o mundo continuar correndo enquanto a gente pára um pouco. Pare.

01 dezembro, 2006

Secretárias - Parte 2


30 de novembro de 2006.

Começo com a apresentação da foto: é um boneco que o Felipe ganhou am algum lugar, algum dia. Como sou fã do Batman, pedi que o desse para mim. Incrivelmente ele deu. Coloquei na mesinha de meu computador. Eu ainda morava sozinho na época. Dois anos atrás? É, talvez seja por aí.
O apartamento tinha dois dormitórios e um deles foi preparado para as crianças. A Clau e as crianças passavam comigo todos os finais de semana. De segunda a sexta eu dormia sozinho. Dormia literalmente. Era quase só isto que eu fazia por lá. Trabalhava o dia inteiro, ia para a casa da Clau e depois ia para minha casa dormir.
Aí veio a Olívia. Ela já fazia a faxina para a Clau havia um bom tempo. Era uma coisa sem dia marcado, sem uma periodicidade certa. Quando a Clau queria, chamava.
Eu já sabia que a Olívia tirava tudo do lugar. Limpava cada centímetro e deixava tudo brilhando, brilhando mesmo. Imagine um brilho. Pois é, parecido com isto.
Chegou no primeiro dia às sete da manhã. Eu ainda estava dormindo. Mostrei o apartamento, orientei quanto ao que eu queria, tomei meu banho e saí. Pedi que deixasse a chave na portaria do prédio quando fosse embora. O pagamento do dia eu traria no horário do almoço, acompanhado de um marmitex.
Tarde da noite, já madrugada, cheguei em casa. Já deviam ser umas duas da matina. Eu não estava com sono. Quando acendi as luzes... brilho! Muito brilho. Tudo limpíssimo. Sorri sozinho e fui ligar meu micro. Cadê meu Batman? Procurei, não achei. Fui pela lógica: quarto das crianças. Ali, no meio de milhares de brinquedinhos do tamanho daqueles do Kinder Ovo, comecei a procurar. Na mosca! Lá estava ele.
Talvez o leitor não entenda, mas o fato é que depois do Batman fui encontrar mais coisas fora do lugar. Na verdade estavam fora do meu lugar. Na lógica da Olívia, agora sim estava tudo em ordem.
Ela foi prestar serviço mais vezes naquele apartamento. Em todas as vezes as coisas voltavam para a ordem dela. Que se danasse a minha lógica, que se danasse a minha organização. Eu ficava puto... Principalmente quando demorava a achar alguma coisa.