24 maio, 2011

Tio da Sukita



24 de maio de 2011.

Havia anos não nos encontrávamos. Estávamos com um pouco de tempo e resolvemos “tomar uma”. Eu, uma Coca, só para variar. Nunca fui muito chegado na tal da cervejinha.
Somos contemporâneos. Lembramos que os anos que passamos juntos foram... nem sabemos quantos. Aliás, essas conversas com gente da “nossa antiga” são péssimas quando nos lembramos que estamos falando de trinta, às vezes mais, às vezes pouco menos, anos atrás.
Conversa vai, conversa vem, chegamos nas meninas.
- Essas meninas, hein? Já percebeu? Você olha e pensa: puxa vida, outro dia era uma criança... Agora, esse mulherão!
- Ei, calma! De quem está falando?
- Outro dia encontrei um amigo com a filha. Eu vi aquela menina pequena, brincando no chão com as bonecas... Agora, nossa! Agora é que dá vontade de pegar no colo!
- Você pensa que ainda tem quinze anos? Olhe para você!
- Mas, olhe lá, aquela, por exemplo! Vai dizer que não é gostosa?
- Não são para você e nem para mim! São da garotada. Chegamos na idade do tio da Sukita!
- Mas olhe que coisinhas!
- Parece que sua cabeça continua lá, trinta anos para trás. Você está reagindo como naqueles anos em que paquerávamos, trocávamos olhares, chegávamos junto... Não vá me dizer que você ainda chega nessas meninas?
- Ah, não, né? Mas que dá vontade, dá! Ah, namorar uma menina dessas...
- O que é isso? Onde está com a cabeça? Caia na real! Nós já estamos com quarenta e cinco! Está querendo brincar de Anita?
- Você assistiu? Não me diga que uma história daquelas, um casinho daqueles, não seria delicioso? Acho que é um sonho de todo homem... Já pensou uma gatinha dessas louca por você?
- É, talvez você tenha razão. Talvez fosse muito bom, mas definitivamente não são mais para nós. Sim, lindinhas, com tudo em cima, cheias de curvas, com aquela pele macia, tudo lindo e gostoso, mas não são mais para você! Nem para mim! Acorde! O tempo passou!
- Você está é se achando já um velho...
- Não é nada disso. O Renato já dizia: você sabe quando está começando a ficar velho? Quando começa a achar as amigas do seu filho gostosinhas! Pois é! Chegou o tempo. Não precisa se achar velho, porque não somos, mas ficar sonhando com adolescente... Nem precisa ser adolescente, adolescente! Mesmo que seja de vinte, vinte e poucos! Não sonhe!
- Saiba que não sou só eu. Lembra-se daquela música? Menina, que um dia conheci criança, me aparece assim, de repente, linda, virou mulher... Cláudio Cavalcanti cantava. Eu tinha o disco. É, meu pai tinha o disco, LP.
Chegou a hora de irmos. Tínhamos tempo, mas não o dia inteiro. E as meninas, bem, estão aí, lindas, viraram mulheres mesmo. Sim, aquelas que conhecemos crianças. Tio da Sukita! Você já é um tio da Sukita!

20 maio, 2011

Palhaço triste



20 de maio de 2011.


Dia desses eu estava passando em frente à casa 7. Porta aberta em função da reforma, vi, entre vários quadros na parede da sala, aquele palhaço que um dia pintei.
Lembrei-me de meu avô. É na casa dele que está a minha tela. Pintei quando ainda era adolescente e tinha aulas com a dona Maria José. Fazíamos nossa obra daquele jeito e quando a dávamos por finalizada ela vinha com suas pinceladas mágicas. Um "retoque".
Tenho saudades de pintar, fazer algumas telas a óleo, mas nem sei se ainda saberia. Penso que tenho o dom, mas confesso que fico com minha ponta de dúvida. Afinal, aquele "retoque" da dona Maria José era nada mais do que a própria vida final do quadro.
A tela que retrata meu texto é de Edda Bettinzoli, encontrada na internet. A minha tela, com o mesmo personagem, tem um fundo mais azulado. Aliás, "as minhas". Acabei de me lembrar que há outra na casa do meu tio, meu padrinho.

19 maio, 2011

Sandy se foi


19 de maio de 2011.
Aniversário do Felipe e morte da Sandy. No momento eu não senti, mas fiquei insistentemente pensando na Gabriela. Como reagirá? A cachorrinha era muito importante para ela e um dos principais entretenimentos de seu dia.
Chegou a hora de buscá-la na escola. Foi esta a hora em que senti. Quando coloquei meu rosto porta da classe adentro, procurando a minha filha querida, meu peito encheu-se de emoção e subiram as lágrimas aos meus olhos. Não soltei. Contive-me, abracei a Gabi, desci com ela até a lanchonete, fui para casa.
A verdade da morte não foi contada à Gabriela. Eu preferia que fosse. Penso que a criança, mesmo criança de apenas 4 anos, deve conhecer alguma coisa do que é a morte. Não sei como pode ser compreendida, o que deve se passar na mente infantil, mas penso que deveria saber e enfrentar à sua maneira, com nosso apoio, é claro. A morte não pode ficar no desconhecido, na escuridão, mas um consenso com a Clau neste momento fica meio difícil. Talvez com o tempo e sem o calor do momento, cheguemos a um bom termo.
A Gabi, agora, diz que está com saudades da Sandy. Será que ela foi namorar? Por que ela foi embora para sempre? Perguntas e saudades. Foi o que ficou neste dia.

07 maio, 2011

Vai e morde

7 de maio de 2011.


Você está quieto no seu cantinho, nem pensando em comer, muito menos pensando em qualquer prato específico. Aí vem alguém e coloca aquela coisa na sua frente. Parece que ela até sorri para você e lhe chama pelo nome. E o cheiro? Nem precisava ter. O visual já é suficiente. Pronto. Você vai e morde. O ruim é que depois chega aquele martelinho na sua consciência... Ai, ai, ai.
Peixe, que não pensa, morde a isca. Morre. Ou não, mas fica na mão do pescador. Que merda!


Os eventuais leitores que entendam: o texto vale não apenas ao pé da letra. Na verdade, escrevi como uma metáfora, por algo que me aconteceu entre ontem e hoje.
Pense. Pense bem se não é uma figura que vale em muitas e muitas situações...
Um abraço.