26 outubro, 2006

Sweet Alice


25 de outubro de 2006.

Gosto de arquitetura. Gosto de design. Gosto de decoração. Gosto de fotografia.
Não sei teoria. Gostaria até de ter aprendido tudo isto e, quem sabe, até ser um profissional da área. Mas...
Chamava a minha atenção o anúncio do programa "Extreme Makeover: Home Edition". Eu já assistira a edição que trata de pessoas, do visual de pessoas insatisfeitas e infelizes. A transformação é mesmo radical em muitas vezes.
O primeiro Home Edition que assisti trouxe a história de Alice Harris, conhecida carinhosamente como Sweet Alice. É a mãe de toda a comunidade onde vive. É conhecida por ser o tipo de pessoa que coloca as necessidades das outras pessoas acima das suas próprias. Desde 1983, Sweet Alice abre as portas de sua casa, encoraja crianças e jovens a permanecerem na escola e longe de drogas, incentiva pais a serem o suporte de seus filhos, promove o entendimento entre pessoas de culturas diferentes, alimenta pessoas carentes. No famoso Dia de Ação de Graças americano, chega a distribuir mais de 1.300 refeições em sua casa. É diretora de mais de 15 programas sociais e os mantêm vivos quase completamente com seus próprios recursos, embora tenha reconhecimento dos governos Estadual e Federal.
Watts, o município onde vive no Estado da Califórnia, sofreu as mazelas de uma enorme enchente tempos atrás. Sweet Alice e seus vizinhos tiveram grandes prejuízos e dores de cabeça.
Ty Pennington, o líder do programa "Extreme Makeover: Home Edition", sensibilizou-se e achou por bem ajudar. Com sua equipe, destruiu e reconstruiu a casa de Alice. Mexeu em tudo. Levou em conta todas as necessidades, como por exemplo ampliar a cozinha e instalar lá na entrada da casa a maior churrasqueira do mundo. Não sei se é mesmo a maior, mas que é enorme, é. Mais do que um bem a Alice e sua família, Ty ainda ajudou a vizinhança com vários reparos e novos colchões. Pensou que Sweet Alice, em seu lugar, faria isto: antes aos outros, depois a si própria.
Um belo programa foi este. Vi não só o que desejava: projeto, construção, detalhes, decoração, beleza. Vi exemplos de bondade, de solidariedade, de amor ao próximo. Inspirador.

18 outubro, 2006

Aprendendo sempre


18 de outubro de 2006

Estávamos, dia desses, à mesa, terminando o jantar. Agora já nem tenho certeza se o jantar ou o almoço.
- Eu quero bagas! – disse a Aline. E continuou:
- Você sabe o que é "bagas", mãe?
Diante da fisionomia surpresa, virou-se para mim e repetiu a pergunta. Como também não sabia, já foi explicando:
- É uva! Você não sabe?
Fui direto para um dicionário. Eu adoro consultar dicionário. E lá estava:
Baga. sf. 1. bot. fruto carnoso, indeiscente, com número variável de sementes. ex: uva, goiaba, mamão, tomate, etc. 2. gota de suor.
Indeiscente? O que será isto? Procurei também:
Indeiscente. adj. bot. diz-se do fruto que não se abre naturalmente.
Pois é. Mais duas para o "currículo"...

16 outubro, 2006

Porta Errada


16 de outubro de 2006

Desde que fui apresentado à Matemática, apaixonei-me. A facilidade de compreensão era enorme e a Eliana, minha professora de quinta a oitava série, acabava por me dar aulas particulares enquanto a classe fazia exercícios da matéria explicada. Eu andava cerca de três capítulos à frente dos outros alunos e daí a particularidade das aulas.
Desde criança também desenhava. Qualquer coisa, qualquer tema. Pouca criatividade, é verdade. Meu forte era copiar, ou melhor, ampliar desenhos já existentes. Gastava horas entre meus papéis e lápis e sempre era elogiado no final.
Da soma dos talentos, matemática mais desenho, resulta engenharia civil ou arquitetura. Qualquer das respostas estaria correta numa prova.
Segui o caminho. No segundo grau, Colégio Arquidiocesano, lá estava eu numa das várias turmas de Exatas.
Mil novecentos e oitenta e quatro:
- Meu filho, o vestibular está aí. Você está preparado? Quer fazer um cursinho?
- Pai, acho que sou fraco em História, Geografia... Se eu fosse fazer um cursinho, gostaria de fazer na área de Humanas. O número de horas/aula destas matérias é maior. Acho que me ajudaria...
- Então vá procurar um cursinho. Os intensivos estão começando agora.
Era época dos “intensivões”. Faltava apenas cinco ou quatro meses para o vestibular.
Depois de consultar alguns amigos, decidi: Anglo Tamandaré. E fui.
O cursinho era aquela brincadeira. Sadia, claro. Professores como nunca havia visto: ensinavam brincando. Achei uma ótima técnica, um ótimo método. Realmente aprendemos. E guardamos!
Adorei conhecer a Carla. Era do mesmo colégio que eu e fui conhecê-la apenas lá no Anglo. O relacionamento de amizade foi diferente, instantâneo, forte. Durou apenas aqueles meses, porém. A escolha do vestibular nos separou para sempre e só fui encontrá-la mais tarde, casada, morando no mesmo prédio que eu. Mundo pequeno.
Chegou o tempo das inscrições. Escolhi e me inscrevi: USP, FAAP, Mackenzie, ESPM e Metodista. ESPM? O que tem a ver com arquitetura? Pois é: porta errada. Inscrevi-me para os cinco vestibulares com a opção de cursar Publicidade e Propaganda. Dos cinco, não passei na USP e não fiz a prova da Metodista. Passei na FAAP, no Mackenzie e na ESPM. Acabei fazendo a ESPM. Era a mais conceituada.
Levei o curso na barrigada. Não era necessário nem estudar. Fui aquele “cdf” que não cabulou aula, tinha os cadernos em ordem e com todas e toda matéria, que emprestava as anotações aos faltantes para as milhares de fotocópias.
Dia da formatura: “O que estou fazendo aqui? O que farei da minha vida agora?” Foi mesmo uma porta errada. O pior é abrir, entrar, caminhar um tempão, ir até o fim. Por que não saí? Por que não busquei a porta certa?
Ainda não é tarde. Nunca é tarde, como já vi em exemplos vivos. Falta é peito. E saco, talvez.
Portas erradas sempre surgem em nosso caminho. Também as certas. Às vezes precisamos sair do calor dos momentos e olhar nossa vida de fora. Avaliar onde estamos, como estamos, o grau de satisfação. E vale para tudo: escola, trabalho, companheiros, lazer... Tudo!

Finalmente!


10 de outubro de 2006.

O ultra-som foi na sexta, dia 6. Não, não demorei para escrever. É que apenas hoje ficou pronto o resultado.
A Clau andava ansiosa por saber o sexo. Não só ela, aliás. Muitas pessoas perguntavam. Perguntavam novamente quando num segundo encontro, num terceiro... E nada!
É, minha família é assim mesmo: homens. Tenho apenas uma irmã e duas primas. Irmãos? Dois. Primos? Dez. Sobrinhas? Apenas uma. Sobrinhos? Seis, além dos meus dois filhos, o que dá oito. Conclusão: falei de quatro mulheres e vinte e um homens, contando comigo. É o quíntuplo!
Eu, porém, ainda tinha esperança de uma menina, da minha sonhada menina.
Pouco mais que adolescente apaixonei-me por ler Machado de Assis. Lá, numa das obras, encontrei o nome Marcela. Apesar de não gostar muito do masculino, o nome me soou lindo. Combinava, no meu entender, com uma menina, com uma adolescente, com uma senhora. Nome forte, marcante, fino. Cheguei a escrever algumas palavras sobre o sonho de minha Marcela, palavras estas que não tive o cuidado de guardar.
Passaram-se os anos e descobri os nomes terminados em “ela”. Acho todos bonitos: Marcela, Gabriela, Rafaela, Isabela... Ela, porém, não veio.
Voltemos à sexta-feira, dia 6. O médico deu uma primeira olhada e disse achar ser uma menina. Disse que voltaríamos mais tarde. Ultra-som vai, ultra-som vem, voltamos.
- É uma moça mesmo.
- É certeza, doutor? – perguntei.
- Sim! Como eu já havia dito: é uma moça.
Finalmente se deixou ver! Quando saímos da sala eu não me continha de alegria. Conseguia sentir o meu rosto aberto, no sorriso mais largo que já pude dar em toda a minha vida. Fui ver minha cara num espelho. Ria sozinho. A minha menina! Minha menina!
Não será Marcela. O nome não agrada a mamãe. Será, então, Gabriela. Gabriela.
Gabriela, eu amo você! Muito!

03 outubro, 2006

Um sonho que aconteceu


3 de outubro de 2006

Lá no dia 13 de abril narrei por aqui um dia de sorte. Não fui claro, porém. Não quis dizer, em transparentes palavras, o que de fato havia ocorrido.
Para lembrar apenas, e abrindo agora o jogo, acordei naquele dia cismado, convencido mesmo de que deveria ir ao bingo. Não qualquer bingo. Imperatriz 23, aquele grande e imponente que se vê enquanto se transita pela Avenida 23 de Maio. Pois é: fui. Fui apenas para jogar a primeira partida. De segunda a sexta-feira, pontualmente às quinze horas, ocorre a abertura com uma partida de cinco mil reais em prêmios. O bingo principal paga quatro mil. Ah, e as séries custam apenas dois reais.
Bem, naquele dia comprei quinze séries (trinta reais), bati o bingo principal com o número trinta e três e voltei para casa. Foi um alívio pagar várias contas e ficar tranqüilo por um período.
Ontem sonhei com o bingo. Sonhei que nesta primeira partida sairia o bingo acumulado, aquele em que se o sujeito bate com até quarenta bolas recebe, além do prêmio principal, um valor de dez mil reais. Pronto! Sonhei, então fui. Ao cantar da bola trinta e nove... bingo! O prêmio foi mesmo de quatorze mil reais. Desta vez, porém, não foi para mim. Que pena...

Movimentos subterrâneos


3 de outubro de 2006.

Já escrevi antes que participei de várias conversas na época da ditadura. Participei como ouvinte, claro. Minha infância e inocência não me permitiam dar qualquer tipo de palpite ou opinião nos assuntos dos adultos. Ali, na sala do meu avô, militares e civis, todos tios, além de meu pai, discutiam por horas debaixo de uma luz fraca.
Cresci e continuei ouvindo meu pai. Sua visão dos acontecimentos sempre teve um pouco de terrorismo, de “é coisa do fulano” ou “é coisa do partido tal”.
É uma visão de quem viveu a adolescência e juventude como líder estudantil. Nunca foi muito de falar, mas sempre esteve na cabeça de movimentos. Conta que foi até um dos perseguidos do regime. Livrou-se apenas por obra do primo que, entre os grandes do Exército, conseguiu arrancar seu nome da lista.
Cresci vendo na estante livros sobre política. Até LP´s com discurso de Lacerda ele tinha.
Bem, mas voltando aos acontecimentos, mau pai atribui quase tudo o que acontece às tramas de porão, aos movimentos subterrâneos da política. Subterrâneos os chamo eu, não ele. Subterrâneos os chamo porque é coisa que se faz e ninguém vê. São tramados na penumbra, a vozes quase inaudíveis. São como nos filmes de máfia que tanto gosto de assistir. Alguém manda, outros executam.
Pois bem: há planos subterrâneos prestes a acontecer. Então, que não venha Lula para mais um mandato. Aliás, alguns dos planos até falharam nos últimos tempos e daí estarmos prontos a votar no segundo turno. Se fosse a máfia, mortos surgiriam, ou melhor, pessoas sumiriam de circulação sem que os mortais percebessem. E quem sabe não acontece...
Engraçado foi o que pensei no domingo: os movimentos subterrâneos acontecem também com pessoas. É, movimentos que ninguém vê e ninguém sabe. Meu pai me disse ser membro de um partido político. “O quê?” – perguntei. “É, agora sou. Antes o banco não permitia filiações partidárias. Depois que me aposentei...” – respondeu.
Surpresa para um filho que não deveria se surpreender. Mas a surpresa veio porque é intrigante mesmo o que se passa na mente humana. Meu pai, aos meus olhos, não tem mais idade para se embrenhar em partidos, movimentos, lutas, mesmo que estas sejam verbais. Mas isto é o que eu acho. De que vale o que eu acho? Interessa o que ele acha, não eu. Foi mais ou menos a mesma coisa quando eu soube que o Carlos Cecílio, então com 60 e poucos anos, resolvera aprender inglês. Reagi da mesma forma...