27 julho, 2011

As duas do dia

26 de julho de 2011.


Começo pela segunda.
- Pai, quando eu crescer eu vou comprar o que você quiser. O que você quer?
Pensei um pouco e respondi:
- Eu quero uma cadeira de balanço e uma TV bem grande!
- Você vai dividir a cadeira?
- Ah, não! Eu quero só para mim! Você não pediu para dizer o que eu queria? Então eu quero só para mim!
- Então eu vou comprar duas.
Fiquei pensando em como ela é minha companheira. No real sentido da palavra. Eu e ela adoramos compartilhar nossas companhias.
Passou um tempo. O assunto foi embora. Voltei a pensar. Eu deveria ter acrescentado um ingrediente à minha cadeira e à minha TV. Poderia ter pedido para que a Gabriela distraísse a mãe. É, sem distração, a mãe não me deixará aproveitar a TV. Melhor: não distraia você a sua mãe. Fique comigo e arrume para ela algum entretenimento...


A primeira aconteceu antes, logicamente, mas para ficar boa a sequência do meu texto, melhor vir apenas agora.


- Amor, há quanto tempo estamos juntos?
- Nove anos.
- Nossa, tudo isso?
- Nove anos de felicidade...
Ela riu.
- Do que está rindo? Você não está feliz?
Continuou rindo.
- Se você não está feliz, não sei, não... Faz e desfaz, manda e desmanda, pisa e alisa.
Riu ainda mais. Dei as costas e fui para a padaria, para onde eu já estava mesmo me preparando para ir.


E a sequência? Não é mesmo melhor assim? O primeiro acontecimento não explica mesmo o segundo? Não tem mesmo que vir o segundo e depois, sim, o primeiro?
Ah, minha cadeira de balanço!...

21 julho, 2011

The first three words...

21 de julho de 2011, 3 horas e 12 minutos.
My three first words: fat, beautiful and lovely.
And I say: interesting. Um passatempo rápido e interessante. Qual será o embasamento?

07 julho, 2011

Oi, meu querido!


7 de julho de 2011.

Com esta frase, sempre, minha avó me recebia. Não, não era um privilégio só meu. Todos os netos a ouviam e sei, jamais esquecerão.
Minha avó faz parte das minhas melhores lembranças, mesmo nos poucos anos que passei em minha terra natal, Juiz de Fora.
Lembro-me da casa, do estreito corredor onde era estacionado o Fusca do meu avô. Lembro-me dos pés de chuchu, do galinheiro, da rampa para que chegássemos à cozinha.
Eu ia à feira de mãos dadas com ela. Descíamos a rua e passávamos em frente ao quartel. À tarde, era ela que me buscava na escola. Eu a apressava para que chegássemos logo em casa porque a Vila Sésamo me esperava.
Ela fazia o “molhinho da vó”, um combinado de molho de tomate com carne moída. Coisa simples, nada de especial a não ser pelo tempero. Não havia e não há igual. Nos muitos anos que me vieram depois, jamais encontrei algo sequer semelhante.
Na igreja eu tinha orgulho de vê-la lá na frente, cantando, ensinando gestos, contando histórias para as crianças. Histórias da Bíblia e histórias de meninos e meninas que aprendiam a viver com Jesus. Minha avó me contava histórias em casa também. Eram talvez mais especiais do que as que ouvia na igreja, mesmo sendo as mesmas histórias. Ali, na sala, no escritório ou no quarto, havia o calor da vó, o abraço, o tom mais carinhoso.
Ela guardava meu umbigo. Foi armazenado em um pequeno frasco de vidro e guardado por muitos e muitos anos. Talvez hoje ainda exista. Tinha a coleção de todos os netos. Sim, ela chamava de umbigo aquele resto de cordão umbilical que volta com o bebê da maternidade. Ela passou mercúrio cromo e cuidou até que caísse. Guardou a peça como um troféu, como uma lembrança de uma vitória, de um momento que lhe foi muito feliz.
Morreu no último dia primeiro. Chorei. Minha avó foi muito importante na minha vida.
Talvez dos netos eu tenha sido o único a não ir para a sua despedida. Justo eu, o primogênito. Assim ela sempre me chamava: primogênito. Ah, vó, eu não queria ver você morta. Desculpe a minha ausência, por favor.
Estou muito triste porque não mais ouvirei a sua saudação, mas agradeço a Deus pelos anos que lhe deu, por sua força, por sua alegria, por sua severidade até.
Adeus, minha querida!