31 janeiro, 2011

Quadrado escuro


30 de janeiro de 2011.


Simone cantando Marina. Eu coloquei o segundo fone no ouvido esquerdo, apertei os dois ouvidos adentro, fechei os olhos. Senti como se estivesse só, trancado num quadrado escuro. Imaginei as paredes revestidas, abafadas, anti-ruído, e o quadrado coberto de equipamentos eletrônicos, tudo com o mais fino som. Quis dançar com Simone, com Marina. Soltar o corpo, os braços, as pernas que já não agüentam. Imaginei um exercício diário, uma liberdade, um prazer. Vez em quando eu deixarei minha filha entrar. Dançar comigo, ou apenas balançar, como é melhor definir para o meu caso. Vez em quando sentarei ali, poltrona reclinável e mais do que confortável, e assistirei um filme com o som explodindo quadrado adentro.
Ah, quando eu ganhar na loteria... É um prazer que me darei, este, que imaginei hoje com a Simone cantando Marina.

17 janeiro, 2011

É como Marcela...



16 de janeiro de 2011.


Quando nós não sabemos, mas queremos saber, imaginamos. Caras de pau perguntam. Michele, porém, não imaginei. Eu estava apenas encostado, distraído, quando algo chamou minha atenção. Desviei meu rosto da parede de camisetas e era ela quem estava ali. Voltei e continuei a olhar pelo vão do meio do caminho. O que vemos, se belo, provoca um deleite instantâneo na alma. Foi o deleite que senti ao ver tudo aquilo, todas aquelas curvas, toda aquela delicadeza e formosura. Chegou. Perguntou. Quis. Foi aí que encontrei o fato de que a minha imaginação falhara. Perdoável. Michele também combina. É doce. É suave. É daqueles que, como Marcela, cai bem para qualquer das fases da vida. 
Fiquei e fico pensando no que eu faria se a porta se abrisse. E eu não tenho a mínima idéia, apesar de saber que desejo. Sinto-me, às vezes, incapaz, já ultrapassado pelo tempo e pelo peso. Velho, gordo, fraco, feio. É possível voltar? Sim, com esforço.
Olhar pelo buraco é sempre interessante. É uma aventura. É uma brincadeira de criança. É uma forma de bisbilhotar, investigar, espiar, como dizia a dona Laura. É emocionante, palpitante. Eu fico daqui procurando entre as frestas, entre os vãos, nos reflexos dos espelhos, onde estão aquelas colunas roliças, perfeitas, aquela estrada de curvas perigosas e encantadoras, curvas que levam à perdição, ao desconhecido. Que coisa! O que é isto? Que espetáculo é este que assisto sem ingresso a cada quinze segundos, minutos, dias? Sonho. É tudo sonho. Não deve existir. O fato é que me leva a escrever...

15 janeiro, 2011

Sentimento de morte

14 de janeiro de 2011.

Eu ia sair para fazer uma entrega em Perdizes. Olhei para minha filha e encontrei o seu olhar. Mandei-lhe um beijo discreto e sorri. Pensei: eu AMO você, filha! Naquele mesmo instante senti como se não fosse mais vê-la. Um sentimento estranho, como se eu fosse morrer e não voltar mais.
Fui. Lembrei e fiquei me lembrando da cena pelo caminho. Imaginei como o Lukas e o Sylas receberiam a notícia da minha morte. Apesar do calor, fechei o vidro da janela do carro num semáforo. Olhei pelo retrovisor, encostei com conforto no banco.
Fiz o que tinha que ser feito e coloquei-me no caminho de volta. A noite parecia escura, mas vi o que ainda não tinha visto. Duas vezes. A lua estava pela metade no céu e o coelho estava de cabeça para baixo. Eu nunca tinha visto o coelho naquela posição...
Cheguei em casa. Olhei para minha filha e ela me olhou. Foi apenas um sentimento.

11 janeiro, 2011

A maçã da Branca de Neve

11 de janeiro de 2011.

A história aconteceu no dia 9, domingo, logo que chegamos em Mirassol.
A Adelle estava preocupada com o que a Gabriela iria comer. Ofereceu algumas opções e, dentre elas...
- Você quer uma maçã? Está vermelhinha! A maçã da Branca de Neve! Você quer maçã?
A Gabi pensou um pouco e respondeu com uma pergunta:
- Mas tem veneno?

09 janeiro, 2011

Notas de viagem



12h56 ... 000,0 km ... saída de casa, São Paulo, SP
13h53 ... 055,5 km ... pedágio Bandeirantes (SP-348) ... velocidade média 58,42 km/h
14h08 ... 075,0 km ... parada Lago Azul ... velocidade média 100,00 km/h
14h42 ... 075,0 km ... saída Lago Azul
14h57 ... 094,0 km ... pedágio Bandeirantes (SP-348) ... velocidade média 76,00 km/h
15h21 ... 132,1 km ... pedágio Bandeirantes (SP-348) ... velocidade média 95,25 km/h
15h49 ... 175,8 km ... pedágio Bandeirantes (SP-348) ... velocidade média 93,64 km/h
16h13 ... 210,4 km ... pedágio Bandeirantes (SP-348) ... velocidade média 86,50 km/h
16h36 ... 245,8 km ... pedágio Washington Luís (SP-310) ... velocidade média 92,35 km/h
16h40 ... 249,4 km ... parada Graal ... velocidade média 54 km/h
16h56 ... 249,4 km ... saída Graal
17h38 ... 311,5 km ... pedágio Washington Luís (SP-310)... velocidade média 88,71 km/h
18h08 ... 356,3 km ... parada não identificada ... velocidade média 89,60 km/h
18h11 ... 356,3 km ... saída da parada não identificada
18h23 ... 375,2 km ... pedágio Washington Luís (SP-310) ... velocidade média 94,50 km/h
18h58 ... 427,3 km ... pedágio Washington Luís (SP-310) ... velocidade média 89,31 km/h
19h49 ... 486,5 km ... Tutto Bello, Mirassol, SP  ... velocidade média 69,65 km/h

Velocidade média final, incluídas as paradas: 72,07 km/h
Tempo total das paradas: 53 minutos
Velocidade média final, sem as paradas: 82,93 km/h
Mudança de rodovia, da Bandeirantes para a Washington Luís: cidade de Cordeirópolis.
Chuva entre São Carlos e Araraquara e em um segundo período não anotado.
Municípios passados durante o trajeto:
Rodovia dos Bandeirantes (SP-348): São Paulo, Caieiras, Cajamar, Jundiaí, Itupeva, Campinas, Hortolândia, Sumaré, Santa Bárbara D´Oeste, Limeira, Cordeirópolis.
Rodovia Washington Luís (SP-310): Cordeirópolis, Santa Gertrudes, Rio Claro, Corumbataí, Itirapina, São Carlos, Ibaté, Araraquara, Matão, Taquaritinga, Agulha, Fernando Prestes, Santa Adélia, Pindorama, Catanduva, Catiguá, Uchoa, Cedral, São José do Rio Preto, Mirassol, nosso destino final.

06 janeiro, 2011

O mundo ideal

6 de janeiro de 2011.

Eu passei ontem, sem programar, na casa do meu pai. Estava de passagem e vi que retonaram de viagem. Parei para um abraço e um beijo, para um feliz ano novo. Encontrei meu pai descansando. Comecei a conversar um pouco e compreendi que, além de cansado, estava triste. Explicou o motivo.
Fiquei pensando no mundo ideal, naquele mundo ideal que cada um de nós cria em seu íntimo, em sua mente. O que foge àquelas expectativas nos machuca, nos despedaça, nos destrói. O que sai da linha de nosso imaginário provoca tristeza, traz lágrimas, decepção. A idéia de que a experiência de vida, de que os anos que se passaram, de que as vivências e convivências fazem-nos mais fortes, nos trazem uma dureza e uma robustez como a dos troncos das árvores, nos fazem menos sensíveis, é, talvez, não a única verdade. Tenho que considerar que eu, sim, sinto-me assim, forte, duro, insensível, pronto para as notícias sejam elas quais forem. Mas talvez nem eu esteja verdadeiramente desta maneira. O fato é que as pessoas tem sentimentos e sofrem, à margem de qualquer experiência. A experiência não é escudo. Ponto. Acho que entendi. O mundo ideal continua e continuará sempre vivo, lindo, colorido, nos corações de cada um. Ponto.