30 outubro, 2007

Padre Café


28 de outubro de 2007.

A Padre Café é uma descida, ou subida, a partir de certo trecho. Minha avó morava no final da descida, numa casa quase de esquina. Eu morava mais para cima, na mesma calçada. As casas tinham quintais. Todas, do lado de cá da rua. Lembro-me que vivia muito na casa da avó. Quando no meu quintal, brincava sozinho e, às vezes, com meu irmão. Acho que eu ia pouco ao quintal. Ia ver os patos que tinham lá o seu laguinho. Um tanque raso seria a melhor definição. No fundo, muito mato. Penso que era por isto que eu não ia muito ao quintal. Talvez fosse um medo embutido.
Na casa da avó era diferente. Eu acompanhava minha avó até o galinheiro, dava milho às galinhas e via a retirada dos ovos postos. Era interessante ver a diferença das cascas: umas mais avermelhadas, outras mais claras. Minha avó sabia de qual galinha era cada ovo. Não sei como. Acompanhava meu avô debaixo dos pés de chuchu. Ele os colhia, limpava o solo, amarrava alguns ramos para outra direção que não a natural. Eu também não ia até o fundo da plantação. Acho que eu tinha mesmo medo do mato.
Eu gostava muito da janela da frente, do quarto ou da sala. Era dali que eu podia ver as outras crianças brincando na rua. Muitas. Elas se divertiam com bolas, com pipas, com carrinhos de rolimã. E eu desejava estar lá. Apenas hoje compreendo que era muito pequeno e que era mesmo melhor ficar dentro de casa. Eu não seria aceito pelos maiores, não saberia brincar à sua maneira, me machucaria por falta de algumas habilidades.
Um rapaz ganhava dinheiro vendendo pipas. Sua sala era repleta, até o teto, literalmente. Muitas cores, tamanhos e alguns formatos diferentes. Eu sempre queria ir até lá com meu avô, até que um dia venci pelo cansaço. Quando entrei, não sabia sequer para onde olhar. Lindas as pipas! Meu avô comprou uma das mais simples para mim. Também apenas hoje compreendo o motivo: gastar o menos possível com algo que eu nem ia usar e logo rasgaria. A rua era proibida e o quintal pequeno demais. Eu não sabia empinar. O jeito foi me levar até o campo do Grambery e lá sim, tentar levantar a pipa, levá-la ao céu azul. Tentativa frustrada. Pouco vento e meu avô também parecia não entender muito de empinar. Mas, minha vontade fora satisfeita. Eu fiquei feliz de ter a minha pipa.
O dia da semana eu não me lembro bem, mas havia feira numa das travessas da Padre Café. Descia a pé, mãos dadas à minha mãe ou avó. Eu tinha sempre que voltar com um suco na mão. Vinha numa embalagem plástica e em vários formatos: revólver, bola, boneco... Meu pai dizia que aquilo era tinta pura e que fazia mal à saúde. Não gostava quando minha mãe comprava. E toda semana era a mesma coisa:
- Comprou de novo esta porcaria? Já falei para não comprar! Isto é tinta pura! Faz mal!
Ir à feira me despertava outra vontade: a de descer um pouco mais a Padre Café e passar em frente ao quartel. Eu adorava ver os sentinelas, fardados, arma em punho, imóveis. Eu queria ser soldado. Fiquei feliz no dia em que ganhei capacete, arma, rádio comunicador e moringa do exército. Tudo de plástico. E eu sonhava com o exército, com o quartel, com a guerra, mesmo sem saber que ela, a guerra, é muito ruim para a humanidade. Achava-me forte, corajoso, valente. Esquecia o medo do mato.
O que me despertou todas estas lembranças foi uma bucha vegetal. Tem uma lá no box do meu banheiro, e eu não sei nem como foi parar lá, nem de onde veio.
Quando eu era menino tomava banho com aquilo. Minha mãe sempre dizia:
- Esfregue bem os seus joelhos com a bucha!
Eu vivia com os joelhos imundos. A bucha era usada no resto do corpo também. E eu não gostava de bucha nova, ainda recheada com algumas sementes. Esfregar aquilo na pele era dor na certa, vermelhidão depois. Depois de muito usada, não, ficava melhor, mais suave. Mas quando minha mãe comprava um pedaço novo na feira, ah, já era sofrimento antecipado:
- Ah, mãe, já vai trocar a bucha?
Eu brincava muito no chão. Na cozinha, ou na área de serviço, ou no quintal da minha avó. E vivia sujo. O negócio, então, tinha que ser assim: bucha no menino!

22 outubro, 2007

Vontade de escrever


22 de outubro de 2007.
Estou sonolento hoje. Com uma certa preguiça. A falta do cedilha e acentos, que depois corrigirei, é porque estou usando o laptop de um amigo e a máquina é oriental. Não acho os sinais.
Comecei a ler o famoso O Segredo. Já estão dizendo que o segredo está virando fofoca. Engraçada a frase. É um livro interessante e que nos faz mesmo pensar. Já está a caminho. É a fé. Pensar no que quer, crer e receber.
A imagem aí de cima é de alguém escrevendo. Meu desejo de hoje e de muitos dias: escrever. Vez ou outra, porém, não tenho assunto, não estou inspirado. Por que? Não sei ao certo.
Tenho lembrado de meu amigo Cláudio Amaral. Escreveu sobre o por que?. Citou a idade dos por ques, por que passa toda crianca. E adulto? Também passa. Quantas vezes, quando paramos, ficamos nos questionando sobre situações que nos envolvem... Envolver, aliás, é um verbo interessante. Algo que nos envolve pode estar, simplesmente, ao nosso redor, nos envolvendo como uma embalagem de biscoito. Mas pode nos envolver por dentro, entrar em nosso âmago, consumir nossos pensamentos, idéias, corpo. Para o bem ou para o mal.
Por que?
Comecei a pensar no que quero. Pedir, mas pedir sozinho. Deus me ouve. Sabe meus pensamentos. Sabe dos meus incômodos, dos meus desvios, e de como sente meu coração ao errar sabendo que estou errando. Erro consciente talvez seja o pior dos erros. E, às vezes, eu os cometo mesmo assim. Ah, Deus, tenha misericórdia de mim.
Gostaria de escrever sobre o por que?, inspirado no tema do Amaral. Mas não hoje.
Fui interrompido antes de chegar a esta frase. Uma boa interrupção, um cliente a atender, mas, depois que voltei, parece que acabou de vez. Os pensamentos que me ocorriam, sumiram. É como o título deste blog e sua explicação: os pensamentos são mais rápidos do que os dedos, e o tempo...
Lembro-me sempre da Sandra. A gente se conhece apenas por aqui, pelos blogs, e apenas uma vez conversamos pelo MSN. Mas não é que eu adoro esta mulher? Sempre me lembro, embora nem sempre a visite. Mas lembro. E da Dija. Quando dá na telha acesso o Orkut e vou xeretar novas fotos das duas. E da Aluska. Adoro as três. E mais algumas pessoas...
Quantas pessoas escrevem... Quantas interessantes... Quantas interessantíssimas... É curioso, mas a tal da amizade virtual é muito bom de ter. E temos que cuidar, como se fosse uma plantinha. Olhar, regar, proteger, acompanhar o crescimento, amar. E eu nem sempre faço isto. Menino mau!
P.S. se faltou algum acento após a correção, perdoe-me o leitor. Talvez eu até devesse deixar o original por aqui, mas já foi.



20 outubro, 2007

É moto que não acaba mais!

20 de outubro de 2007.

A foto aí de cima é apenas para ilustrar. Fotografei há tempo.

Dia destes eu parei no semáforo e reparei muitas motos ao meu lado, próximas à faixa de pedestres. Eram muitas mesmo! Fiquei impressionado. Mas, como pensamos o tempo inteiro e mudamos de assunto sempre nestes nossos pensamentos solitários, logo esqueci.

Ontem dei uma de louco. Quando saí pala manhã, resolvi contar quantas motos passariam ao lado de meu retrovisor. Defini que só contaria as que passassem mesmo do meu lado. Lá na outra faixa ou no sentido contrário do trânsito não valeria. Será que eu conseguiria contar sem perder as contas? Será que eu não mudaria meus pensamentos e conseguiria me concentrar na contagem?

Meu caminho foi da Vila Mariana ao Panamby, do Panamby à Vila Clementino, da Vila Clementino à Saúde e da Saúde à Vila Mariana. Quatro trajetos. E quantas foram as motos? Quinhentos e setenta e oito. Quinhentos e setenta e oito! É, realmente, demais. E eu sou meio doido. É assim: não ter o que fazer dá asas à imaginação. E eu consegui me concentrar na contagem.

13 outubro, 2007

Rádio de pilha

13 de outubro de 2007.

Não era deste modelo aí da foto, mas quando eu era adolescente tive meu rádio de pilha. Gostaria muito de me lembrar como o ganhei. Acho que pedi ao meu pai quando comecei a gostar de futebol e queria ouvir os jogos do campeonato brasileiro.

Quando ganhei o aperelhinho fiquei todo feliz. Antes de me deitar, o dito ia para debaixo do travesseiro, volume mínimo do mínimo. Ouvia músicas à noite e acabava dormindo com a pilha sendo consumida. E não pensem que eu ouvia FM, não! Era AM (OM no meu rádio). Sintonizava estações lá do Nordeste, com músicas típicas da região. Era um sertanejo diferente, das origens, nada parecido com a música de consumo atual. Quando acordava o rádio ainda estava lá, falando baixinho ao meu ouvido.

E o futebol? Eu sintonizava a Rádio Globo e passei a conhecer o Osmar Santos. Adorava ouvir o "pimba na gorduchinha", "ripa na chulipa", "eeee queeee goooooooolllll!" Fiquei triste quando ele sofreu o acidente, e preocupado. Quando soube que não mais narraria, aumentou minha tristeza.

Hoje, sem qualquer motivo aparente, lembrei-me do Osmar. Fiquei pensando por onde anda, como está de saúde, o que faz. Saudades de alguém que nem pessoalmente conheço, mas que fazia parte da minha vida. E agora à noite, coincidência: assistindo o Sportv News, colocaram aquele gol do Corínthians, aquele do título sobre a Ponte Preta depois de 23 anos de jejum. Narração: Osmar Santos. Foi bom demais rever a cena, ouvir aquela emoção peculiar do Osmar.

Senti saudades também do meu rádio de pilha. Não sei como foi seu começo, tampouco o fim que levou. Mas eu adorava meu rádio de pilha. Aliás, dentre os irmãos, fui o único que tive um.

12 outubro, 2007

Vitrola no Natal

12 de outubro de 2007.

Ontem a tia Maria apareceu mais uma vez lá em casa. Ela está ensinando mais coisas de artesanato para a Clau. Ela tem aulas, semanalmente, gosta muito de aprender várias técnicas, e anda repassando seus conhecimentos. Peças lindas, de todo tipo, para todos os gostos.

A aula de ontem foi sobre árvores de Natal. A tia levou cones de isopor, tecidos com motivos natalinos, fitas e outros acessórios necessários. Eu, mais tarde, vendo aquelas árvores e tecidos, me lembrei de músicas. Minha mãe, sempre que entrava Dezembro, passava os dias ouvindo músicas de Natal na vitrola.

Botei meu sapatinho na janela do quintal. Papai Noel deixou meu presente de Natal. Como é que Papai Noel não se esquece de ninguém? Seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem.

Noite feliz, noite feliz! Ó, Senhor, Deus de amor. Pobrezinho nasceu em Belém...

Vitrola. Minha mãe sabia mexer. Os cd´s, os aparelhos com controle remoto, parece que assustam. DVD é meu pai quem liga. TV a cabo, também. Ela quase não mexe mais nos aparelhos. Prefere o tempo em que a gente tinha que se levantar do sofá para mudar a televisão de canal ou diminuir o volume. Tem até um tocador de cd velhinho lá na cozinha, básico. É só colocar o disquinho, fechar a tampa e apertar o play.

Ah, mamãe, que saudades daqueles tempos...



08 outubro, 2007

A ilha


8 de outubro de 2007.

A história da ilha ficou na minha cabeça. É que a gente vai vivendo cada dia, cada situação, cada dia com alguém diferente no ambiente de trabalho, e acaba por se tornar inevitável.
Ilha é a tal de porção de terra cercada de água por todos os lados. Imagino uma no meio do oceano, inabitada, solitária. Talvez nem embarcações que passem por perto parem para um descanso ou exploração. Virgem. seu relacionamento é com o mar, simplesmente. Mas tem vida. Árvores e outros verdes, pássaros, insetos, cobras e outros animais. Sua linguagem é sua beleza, que fala a quem passa distante. Paisagem. Motivo para uma fotografia. Não tem par, mesmo que tenha vizinho.
A metáfora foi para demonstrar isolamento, independência, individualidade. Traz por trás uma dose de egoísmo, de desprezo em relação ao que o cerca, de altivez.
Agora começo a entender porque o trabalho, a produção, os resultados são melhor conquistados em equipe. Eu, que sempre fui um centralizador e confiei mais, e quase que exclusivamente, no meu taco. Uma andorinha só não faz verão, diz uma frase popular. Mas, onde encontrar outras andorinhas com os mesmos objetivos e os mesmos ideais? Uma certa ganância ou uma situação desfavorável, necessidade mesmo, leva um sujeito a derrubar o outro. Não se pensa que sendo fiel, grãos vêm com mais constância e que de grão em grão é que a galinha enche o papo.
...
Depois de tudo isto me aparece o Pavan. Outro pique, outro humor, outro estado de espírito. Vontade, motivação. Bom sujeito.