07 julho, 2011

Oi, meu querido!


7 de julho de 2011.

Com esta frase, sempre, minha avó me recebia. Não, não era um privilégio só meu. Todos os netos a ouviam e sei, jamais esquecerão.
Minha avó faz parte das minhas melhores lembranças, mesmo nos poucos anos que passei em minha terra natal, Juiz de Fora.
Lembro-me da casa, do estreito corredor onde era estacionado o Fusca do meu avô. Lembro-me dos pés de chuchu, do galinheiro, da rampa para que chegássemos à cozinha.
Eu ia à feira de mãos dadas com ela. Descíamos a rua e passávamos em frente ao quartel. À tarde, era ela que me buscava na escola. Eu a apressava para que chegássemos logo em casa porque a Vila Sésamo me esperava.
Ela fazia o “molhinho da vó”, um combinado de molho de tomate com carne moída. Coisa simples, nada de especial a não ser pelo tempero. Não havia e não há igual. Nos muitos anos que me vieram depois, jamais encontrei algo sequer semelhante.
Na igreja eu tinha orgulho de vê-la lá na frente, cantando, ensinando gestos, contando histórias para as crianças. Histórias da Bíblia e histórias de meninos e meninas que aprendiam a viver com Jesus. Minha avó me contava histórias em casa também. Eram talvez mais especiais do que as que ouvia na igreja, mesmo sendo as mesmas histórias. Ali, na sala, no escritório ou no quarto, havia o calor da vó, o abraço, o tom mais carinhoso.
Ela guardava meu umbigo. Foi armazenado em um pequeno frasco de vidro e guardado por muitos e muitos anos. Talvez hoje ainda exista. Tinha a coleção de todos os netos. Sim, ela chamava de umbigo aquele resto de cordão umbilical que volta com o bebê da maternidade. Ela passou mercúrio cromo e cuidou até que caísse. Guardou a peça como um troféu, como uma lembrança de uma vitória, de um momento que lhe foi muito feliz.
Morreu no último dia primeiro. Chorei. Minha avó foi muito importante na minha vida.
Talvez dos netos eu tenha sido o único a não ir para a sua despedida. Justo eu, o primogênito. Assim ela sempre me chamava: primogênito. Ah, vó, eu não queria ver você morta. Desculpe a minha ausência, por favor.
Estou muito triste porque não mais ouvirei a sua saudação, mas agradeço a Deus pelos anos que lhe deu, por sua força, por sua alegria, por sua severidade até.
Adeus, minha querida!