16 outubro, 2006

Porta Errada


16 de outubro de 2006

Desde que fui apresentado à Matemática, apaixonei-me. A facilidade de compreensão era enorme e a Eliana, minha professora de quinta a oitava série, acabava por me dar aulas particulares enquanto a classe fazia exercícios da matéria explicada. Eu andava cerca de três capítulos à frente dos outros alunos e daí a particularidade das aulas.
Desde criança também desenhava. Qualquer coisa, qualquer tema. Pouca criatividade, é verdade. Meu forte era copiar, ou melhor, ampliar desenhos já existentes. Gastava horas entre meus papéis e lápis e sempre era elogiado no final.
Da soma dos talentos, matemática mais desenho, resulta engenharia civil ou arquitetura. Qualquer das respostas estaria correta numa prova.
Segui o caminho. No segundo grau, Colégio Arquidiocesano, lá estava eu numa das várias turmas de Exatas.
Mil novecentos e oitenta e quatro:
- Meu filho, o vestibular está aí. Você está preparado? Quer fazer um cursinho?
- Pai, acho que sou fraco em História, Geografia... Se eu fosse fazer um cursinho, gostaria de fazer na área de Humanas. O número de horas/aula destas matérias é maior. Acho que me ajudaria...
- Então vá procurar um cursinho. Os intensivos estão começando agora.
Era época dos “intensivões”. Faltava apenas cinco ou quatro meses para o vestibular.
Depois de consultar alguns amigos, decidi: Anglo Tamandaré. E fui.
O cursinho era aquela brincadeira. Sadia, claro. Professores como nunca havia visto: ensinavam brincando. Achei uma ótima técnica, um ótimo método. Realmente aprendemos. E guardamos!
Adorei conhecer a Carla. Era do mesmo colégio que eu e fui conhecê-la apenas lá no Anglo. O relacionamento de amizade foi diferente, instantâneo, forte. Durou apenas aqueles meses, porém. A escolha do vestibular nos separou para sempre e só fui encontrá-la mais tarde, casada, morando no mesmo prédio que eu. Mundo pequeno.
Chegou o tempo das inscrições. Escolhi e me inscrevi: USP, FAAP, Mackenzie, ESPM e Metodista. ESPM? O que tem a ver com arquitetura? Pois é: porta errada. Inscrevi-me para os cinco vestibulares com a opção de cursar Publicidade e Propaganda. Dos cinco, não passei na USP e não fiz a prova da Metodista. Passei na FAAP, no Mackenzie e na ESPM. Acabei fazendo a ESPM. Era a mais conceituada.
Levei o curso na barrigada. Não era necessário nem estudar. Fui aquele “cdf” que não cabulou aula, tinha os cadernos em ordem e com todas e toda matéria, que emprestava as anotações aos faltantes para as milhares de fotocópias.
Dia da formatura: “O que estou fazendo aqui? O que farei da minha vida agora?” Foi mesmo uma porta errada. O pior é abrir, entrar, caminhar um tempão, ir até o fim. Por que não saí? Por que não busquei a porta certa?
Ainda não é tarde. Nunca é tarde, como já vi em exemplos vivos. Falta é peito. E saco, talvez.
Portas erradas sempre surgem em nosso caminho. Também as certas. Às vezes precisamos sair do calor dos momentos e olhar nossa vida de fora. Avaliar onde estamos, como estamos, o grau de satisfação. E vale para tudo: escola, trabalho, companheiros, lazer... Tudo!

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sim. Nada pior que fazer o que não se gosta. Gostando já é difícil... Mas nunca é tarde. Para nada.

10:33 PM  

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