04 agosto, 2006

Descomportados


4 de agosto de 2006.

Às vezes penso que tenho algo de anormal. Explico: a música não me faz falta. Mais: exceto sertanejo, samba, pagode e axé, ouço qualquer coisa, mas penso que música tem relação com o momento. Há momentos em que o melhor é um rock pesado, há momentos em que é a romântica, e em outros a pop, a MPB e por aí vai. Mas, volto a dizer: a música não me faz falta. Eu gosto, mas fico sem.
Muitos que possam ler isto talvez pensem mesmo que tenho algo de anormal. Sim, porque há muita, muita gente que não vive sem um som. Acordam com um rádio ou cd, andam com um fonezinho no ouvido, trabalham ou estudam com música. Chega a ser um vício.
Bem, mas o que quero escrever não é nada disto.
Acho que só ouvi no dia seguinte, uma terça-feira, dia 9 de dezembro de 1980. Na noite anterior morrera John Lennon, assassinado. Eu, com meus apenas 14 anos de idade e desligado do universo musical, penso que nunca nem ouvira falar de Lennon. Dos The Beatles sim, claro, mas não sabia nem os nomes dos componentes da banda.
Naquela terça-feira só se ouviu Lennon: rádios, tevês, talvez até fitas cassete. E eu ouvi também, durante todo o dia, e percebi que gostava do sujeito, sem nem saber mais sobre ele e sua música. É, eu sou daqueles tipos que gosta da música mas nem sabe quem está cantando ou tocando.
Resolvi gravar. Peguei meu gravador, montei uma fita e passei a ouvir Lennon. Lennon com os The Beatles, Lennon solo.
Um dia estava em meu quarto, ouvindo a minha fitinha, capa com a cara de Lennon, quando meu pai entrou. Perguntou o que era aquilo.
- John Lennon.
- E você gosta disto desde quando?
- Ah, eu gosto.
Ele fez uma cara feia e saiu. Parece que não gostou do meu gosto, mas nada mais falou.
Os anos passaram e fui conhecer quem foi Lennon. Acho que entendi o porquê de meu pai ter feito aquela cara. Ele sempre foi muito tradicional, certinho, politizado, e sei lá o que mais poderia dizer. Lennon foi várias coisas contrárias às suas convicções: o mais rebelde dos Beatles, polêmico em suas entrevistas e comportamento, casado mais de uma vez, nu em uma capa de disco, protagonista do Bed-in, autor de uma frase em que se dizia, junto com os Beatles, mais famosos que Jesus Cristo, e mais coisas, talvez muito mais.
Penso que gosto de uma rebeldia, dos rebeldes, dos bad-boys. Depois deste primeiro, caiu em meus gostos Madonna, e isto se ficarmos apenas na música. Adoro Madonna.
Outros descomportados: Maradona, Romário, Edmundo, Pernalonga, Tom e Jerry, Papaléguas, Renato Mendes, Nazaré, e até a Leona, ultimamente e para reduzir a lista.
Que coisa!

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Engraçado esse post. Engraçado como quem é rebelde, é rebelde mesmo sem querer.
Bjs
e saudades de ler seus textos

6:34 PM  

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