03 outubro, 2006

Movimentos subterrâneos


3 de outubro de 2006.

Já escrevi antes que participei de várias conversas na época da ditadura. Participei como ouvinte, claro. Minha infância e inocência não me permitiam dar qualquer tipo de palpite ou opinião nos assuntos dos adultos. Ali, na sala do meu avô, militares e civis, todos tios, além de meu pai, discutiam por horas debaixo de uma luz fraca.
Cresci e continuei ouvindo meu pai. Sua visão dos acontecimentos sempre teve um pouco de terrorismo, de “é coisa do fulano” ou “é coisa do partido tal”.
É uma visão de quem viveu a adolescência e juventude como líder estudantil. Nunca foi muito de falar, mas sempre esteve na cabeça de movimentos. Conta que foi até um dos perseguidos do regime. Livrou-se apenas por obra do primo que, entre os grandes do Exército, conseguiu arrancar seu nome da lista.
Cresci vendo na estante livros sobre política. Até LP´s com discurso de Lacerda ele tinha.
Bem, mas voltando aos acontecimentos, mau pai atribui quase tudo o que acontece às tramas de porão, aos movimentos subterrâneos da política. Subterrâneos os chamo eu, não ele. Subterrâneos os chamo porque é coisa que se faz e ninguém vê. São tramados na penumbra, a vozes quase inaudíveis. São como nos filmes de máfia que tanto gosto de assistir. Alguém manda, outros executam.
Pois bem: há planos subterrâneos prestes a acontecer. Então, que não venha Lula para mais um mandato. Aliás, alguns dos planos até falharam nos últimos tempos e daí estarmos prontos a votar no segundo turno. Se fosse a máfia, mortos surgiriam, ou melhor, pessoas sumiriam de circulação sem que os mortais percebessem. E quem sabe não acontece...
Engraçado foi o que pensei no domingo: os movimentos subterrâneos acontecem também com pessoas. É, movimentos que ninguém vê e ninguém sabe. Meu pai me disse ser membro de um partido político. “O quê?” – perguntei. “É, agora sou. Antes o banco não permitia filiações partidárias. Depois que me aposentei...” – respondeu.
Surpresa para um filho que não deveria se surpreender. Mas a surpresa veio porque é intrigante mesmo o que se passa na mente humana. Meu pai, aos meus olhos, não tem mais idade para se embrenhar em partidos, movimentos, lutas, mesmo que estas sejam verbais. Mas isto é o que eu acho. De que vale o que eu acho? Interessa o que ele acha, não eu. Foi mais ou menos a mesma coisa quando eu soube que o Carlos Cecílio, então com 60 e poucos anos, resolvera aprender inglês. Reagi da mesma forma...