29 novembro, 2006

Secretárias – Parte 1


29 de novembro de 2006.

Inspirado nos “causos” que a Sandra contou, lembrei-me de três “secretárias” do lar: a Ângela, a Delba e a Olívia.
A Olívia ficará para um próximo post. Sobre a Delba não tenho muito o que dizer. Foi apenas uma mulher marcante por sua severidade, responsabilidade e, ao mesmo tempo, carinho com meus filhos. Não será esquecida.
A Ângela era nova, talvez com seus dezoito anos ou quase. Quando meu pai foi transferido de Juiz de Fora para São Paulo, ela veio com a família. Lá em Juiz de Fora minha mãe tinha a ajuda da minha avó com os já três filhos. Em São Paulo a coisa seria mais difícil: cidade grande, diferente, ninguém conhecido, além do quarto filho que estava para nascer. Melhor levar uma ajudante: a Ângela. Eu tinha seis anos de idade e meu irmão quatro.
O primeiro caso de que me lembro acontecia depois da novela das oito. Enquanto meus pais permaneciam na sala, eu e meu irmão íamos brincar no apertado quarto da empregada. Dias vão, dias vêm, a Ângela queria ver nossos pintos. Dizia sempre que nos mostraria a perereca. Fomos enrolados e nunca vimos.
O segundo caso aconteceu depois que nos mudamos para a rua dos Jacintos. Ali perto havia um sapateiro, daqueles antigos cuja oficina parecia com uma mecânica: paredes sujas, pôster de mulher com os seios à mostra, iluminação precária, sapatos desorganizados, jogados para todos os lados. Ainda bem que hoje nem as oficinas mecânicas, tampouco as sapatarias são assim.
Minha mãe utilizava muito os serviços do sapateiro, mas não sei o motivo. Acho que recuperar sapatos e solas era mais barato do que comprar novos.
Cada sapato que chegava na sapataria recebia uma marca de giz de cera na sola: o número da casa do cliente. Minha mãe, certo dia, pediu à Ângela que levasse uma sandália para o conserto. Ficaria pronto no dia seguinte e minha mãe foi buscar.
- Qual o número da casa, senhora?
E o sapateiro revirou a oficina. Nada de achar a sandália. Procurou segunda vez e nada. Minha mãe voltou para casa.
- Ângela, você falou o número certo de nossa casa ao sapateiro?
- Sim, dona Miriam! Dois quatro e um nove!
Pronto, resolvido o caso: o sapateiro havia marcado 2419 e o correto era 449 (dois quatro e um nove).
Piada? Não, aconteceu mesmo. Outro dia contei a história na mesa de almoço. Minha mãe riu e comentou:
- Nossa, meu filho, você lembra de cada coisa!

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

hahahahahahahaha.. Coisa de doido essas secretárias. Ms eu te garanto que a minha mãe não vai esquecer a dela...

6:39 AM  

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