28 novembro, 2006

O velho Amadeu


28 de novembro de 2006.

A casa que recebeu a mim e ao Walter foi a do Moraes. Para explicar, ele é um médico, clínico geral, ginecologista e obstetra. Foi ele quem trouxe à luz o Felipe, a Aline, e trará a Gabriela, minha filha.
O Doutor também gosta dos idosos. Não sei se também por suas histórias, mas gosta. Tem vários amigos, pacientes e não. Pacientes? É, ele acaba dando uma de geriatra no final das contas.
Contou-me o Moraes que o Amadeu veio ter com ele certo dia e por lá ficou. Embora sem falar de muitos detalhes, explicou que ficou morando lá, com ele, o Doutor, e sua mãe.
O Amadeu tem hoje noventa e três anos, não teve esposa nem filhos. Tem apenas sobrinhos. É um senhor forte, ativo. Tem a audição já defasada.
Nos primeiros tempos de nova casa do Amadeu, os sobrinhos foram pegá-lo. Explicaram ao Moraes que seria um resgate: ele representava a família, a tradição, e era, além do mais velho, o único ainda vivo.

Foi aquele o discurso que o Amadeu também ouviu. Ouviu quieto, prestando atenção, e depois pediu a palavra. Levantou-se apoiado pela bengala e questionou:
- Vocês, meus sobrinhos, sabem o que é cuidar de um velho? Para cuidar de um velho é preciso três coisas: dinheiro, porque velho gasta, paciência, porque velho é chato, e vontade, porque velho dá trabalho.
Depois de alguns segundos de silêncio, o velho Amadeu continuou:
- Deixem-me onde estou. O Doutor Moraes está cuidando de mim. Eu estou feliz lá e vocês ficarão felizes aqui.
Voltou. E ficou. Já são quatorze anos morando com o médico.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Como é bom ter essas pessoas mais experientes perto da gente!!!! Jamais velhos, só experientes...


Beijos

p.s. Linda atitude desse médico!

9:30 PM  

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