Os meios e as mensagens
Os
meios e as mensagens
18 de novembro de 2011
NELSON MOTTA - O Estado de S.Paulo
Na adolescência fui um leitor
apaixonado de ficção científica, viajava para cidades futurísticas em
astronaves interplanetárias com armas mortíferas, o radinho de pulso do Dick
Tracy era o máximo da tecnologia, só depois viria o telefone com imagem dos Jetsons.
Mas nunca li ou ouvi falar de nenhuma fantasia semelhante a uma caixinha chata
com uma tela, um teclado e uma câmera, em que se falava com qualquer um no
mundo inteiro, de graça, e ainda se via filmes, fotos e quadros, se ouvia a
música que se quisesse, se lia e se dava opinião sobre tudo, se comprava o que
o seu crédito suportasse. Seria absolutamente inverossímil e risível, sem
nenhuma base científica, nem um adolescente idiota do final dos anos 50
acreditaria.
Na juventude distante fui um leitor
entusiasmado de pensadores anarquistas, Bakunin, Proudhom, sonhando com um
império da liberdade e da responsabilidade individual, com o fim do Estado como
pai, mãe, patrão, ou religião. Para Proudhom, ser governado era "ser
observado, fiscalizado, controlado, numerado, doutrinado, avaliado, punido,
autorizado, taxado, explorado, corrigido, licenciado, comandado - sob o
pretexto da utilidade pública - por criaturas que não têm o direito, nem a
sabedoria e nem a virtude para isto".
Ainda vale o escrito, mas o que
Proudhom pensaria no mundo da internet, com sua liberdade sem limites e sem
controles do Estado, de monopólios ou burocracias partidárias? Os velhos
anarquistas aposentariam as bombas e alistariam hackers libertários?
E Marx? E Freud? E Jung? Que teorias
teriam desenvolvido em um mundo com essas liberdades e possibilidades, com o
planeta todo interligado e interagindo, sem intermediários, como nem a mais
delirante ficção científica ousou oferecer? O que escreveriam Machado de Assis,
Eça de Queiroz e Proust com um Google? Que filmes o adolescente Glauber Rocha
faria com uma câmera de celular? O que Camões, nas caravelas com seu laptop,
postaria em seu blog Lusíadas.com, hospedado em uma nuvem à prova de naufrágio?
Que Ilíadas e Odisseias Homero digitaria em seu tablete roubado dos deuses do
Olimpo?
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